Sob o efeito de produtos
Cheguei na aula de cálculo.
É de integração por frações parciais.
Tudo parece normal.
A professora começa a explicar.
Pra minha surpresa começo a entender tudo prontamente. Até fatoração de polinômios está saindo de cabeça.
Lembro do Pedro. Ele disse que fica muito concentrado quando está sob efeito. Deve ser isso que está acontecendo. É uma mistura de alegria e tristeza extremas. É um sentimento bom, apesar disso.
A dor de garganta que me incomodava sumiu.
Pequenos fatos, bons ou ruins, parecem ser aumentados mil vezes.
A aula acaba e continuo na mistura de sentimentos.
Quero comprar dois livros do Drummond que estão na livraria do térreo.
Quero ler Drummond.
A loja está fechada.
Só amanhã agora.
Quero comprar dois livros na Internet quer vi lá do trabalho hoje.
Bom, vou embora, não tenho mais aula.
No caminho, ainda na UERJ, cruzo com a Aline e o Gastão.
Lembro. Lembro da Nat. Vou ligar pra ela para um suquinho.
Já são mais de nove e estou sem celular. Está em casa carregando.
Sigo em frente até o ponto de ônibus. Pego o 239.
Os carros parecem passar mais rápido do que de costume.
No CD player ouço “Ventura”
“Eu cansei de ser assim
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
(...)
Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
o pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
e a vida se perdeu
(...)”
É o que toca. Me vem um suspiro de tristeza.
Pela janela vejo que, de repente, passa um Palio escuro. Preto, não sei.
Procuro um Snoopy na traseira.
Será que ele já colou o Ed que eu dei de presente?
Não acho o tal Snoopy.
Procuro em cada Palio que passa.
Agora passa um Uno dourado. Será que a placa é LOC5799?
Sei que não, mas vou brincando de procurar Snoopy e placa.
Quando vejo já estou no Méier.
É hora de saltar.
A menina perto da porta de saída tem uma tatuagem no ombro esquerdo.
Não consigo identificar o que é.
Uma fada. Uma flor. Um anjo, talvez.
Sei lá.
Como parece ter gente na rua! Já são quase nove e meia.
Reparo que estou andando rápido. Putz, pareço a Nat, serelepe andando. Passos largos.
Nem vi a rua passar.
Já cheguei na portaria do prédio.
Dou boa noite para um casal que também entra, mas nem ouço o que eles me respondem. O fone de ouvido está aos berros.
Não quero esperar o elevador.
Subo as escadas.
Também nem vejo os andares passando.
Estou na porta de casa com as chaves na mão. Não lembro de tê-las tirado do bolso.
Já entrei.
Estou sentado na cama do meu quarto.
Agora chega de escrever.
Vou tentar me “desconcentrar”.
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