Wednesday, September 19, 2012

Na próxima vez



Evandro Barreto

Na próxima vez que eu pisar em Paris serei a mesma outra pessoa. Meus novos passos percorrerão antigos caminhos, mas o pó que se levantará será diverso, como diversa será a tradução do que hei de ver e pressentir à minha volta. Envelhecemos, a cidade e eu, talvez mais eu do que ela. Ainda assim, o encanto da descoberta iniciada há tantos anos não cessará de se realimentar de detalhes nunca antes percebidos, de ruelas nunca antes exploradas, de sabores nunca antes experimentados, de mutações ostensivas ou sutis na paisagem urbana, de tensões e seduções acrescentadas a rostos e gestos.

Na próxima vez, observarei que a mademoiselle atrás do balcão continua eterna, no entanto seus olhos brilham um pouco menos e o sorriso ficou mais sábio. Verei pelas ruas menos baguetes sob os braços e mais smart-phones juntos às faces, identificarei generosas promessas de palanque desidratadas em práticas sem glória de um poder despido de alternativas. Mas nada do que veio ou que se foi contaminará a emoção fruída nas galerias e nos museus, nas salas de espetáculos e nas vitrines, na apresentação de um prato requintado, no raio de sol que se esgueira entre nuvens pesadas, num jeito de andar, na rebeldia estudada de uma mecha de cabelos.

Na próxima vez, pensarei que pode ser a última e estarei à altura, porque viver não se adia E viverei momentos desatrelados do antes e do depois, mesmo sabendo que eles já surgem inevitavelmente destinados a fazer parte de um fluxo que ignoro quando, como ou onde desaguará.

Na próxima vez, serei a mesma outra pessoa.

Fonte: Blog Conexão Paris

Tuesday, August 21, 2012

Mente ao meu coração (F. Malfitano)

Mente ao meu coração

Que cansado de sofrer

Só deseja adormecer

Na palma da tua mão

Conta ao meu coração

Estória das crianças

Para que ele reviva

As velhas esperanças

Mente ao meu coração

Mentiras cor-de-rosa

Que as mentiras de amor

Não deixam cicatrizes

E tu és a mentira mais gostosa

De todas as mentiras que tu dizes

Monday, October 05, 2009

Rio 2016, transporte

Sou um dos que amam o Rio, mas que achava (e acha) que os Jogos Olímpicos não são prioridade. Agora que fomos escolhidos, cabe aos nossos governantes atender às expectativas geradas com a escolha.

Um de nossos pontos fracos é o transporte, aliás o item mais comentado ao lado de segurança e meio ambiente. Muito se fala em metrô, de corredores expressos, BRTs, etc etc... Contudo, se olharmos o projeto apresentado (ele pode ser consultado aqui), este é no mínimo acanhado, para ser bondoso. Tomando como norte a idéia amplamente divulgada do "legado olímpico":

Continuaremos à mercê dos taxistas tanto no Galeão quanto no Santos Dumont. Qualquer cidade europeia, por menor que seja, tem um belo sistema de trens/metrô saindo de seus aeroportos e permeando a cidade. O Galeão será expandido (NENHUM novo terminal será construído há de se ressaltar), mas a infraestruturta do entorno continuará a mesma... "Os membros da família olímpica terão serviços de transporte eficientes partindo do Aeroporto Internacional do Rio" está escrito no projeto. E o legado para os cidadãos? Ainda, esse transporte "olímpico" será complementado com 180 km das chamadas "Vias olímpicas", semelhantes às que tivemos no Pan de 2007. Isso significa mais tantos quilômetros de engarrafamentos para os cariocas já tão castigados todos os dias... E após o termino dos jogos certamente este serviço também terá fim.

Quanto à infraestrutura de transporte propriamente dita do projeto (se é que se pode chamar assim), há a previsão de construção de 5 novas estações do metrô. O curioso é que TODAS estão na Zona Sul. Ora, o coração dos Jogos não será na Barra? Sinceramente não entendo esta lógica.

Outro item bastante alardeado são os corredores BRT (T5, C e Barra-Zona Sul), sistema que conta com ônibus articulados, como os que existem em Curitiba. Aliás as imagens utilizadas no projeto para ilustrá-los são exatamente desta cidade. O que se esqueceram de mencionar é que na cidade paranaense este sistema já está caminhando para a falência, para a saturação. É isto mesmo! Será implantado um sistema fadado ao fracasso! A solução é, clara e obviamente, o transporte sobre trilhos. Todos os especialistas (e não especialistas) em transportes fazem esta afirmação, não é possível que nossos governantes não ouçam.

Torço para que as olímpiadas não venham a se tornar um enorme "oba oba", de proporções ainda maiores do que o que vimos em 2007 no Pan. Sinceramente ainda sinto vergonha do que foi feito. Muito mais do que o "querer se dar bem", a roubalheira que ocorreu traz questões muito mais profundas sobre sociedade carioca e brasileira como um todo.

As coisas estão sendo feitas ao contrário. Não é a escolha de uma cidade como sede olímpica que tem que ser a alavanca impulsionadora de investimentos e sim o contrário. Uma cidade com boa infraestrutura de transportes, acomodações e instalações esportivas é que tem que ser o motivo da escolha. Nosso país nem mesmo possui uma política para o esporte! Imagine só, a cidade sede (e o país como um todo) olímpica não investe em esporte (como não investe em educação, saúde, transporte...)!

Pequim se reconstruiu em tempo muito menor do que o que temos agora. É possível realizar, basta que olhemos menos para nós mesmos e que façamos mais pelo coletivo.

Friday, May 01, 2009

RIO 2016 NÃO

Nesta semana a comitiva do COI (Comitê Olímpico Internacional) está visitando nossa cidade, o Rio de Janeiro, uma das candidatas aos Jogos Olímpicos do ano de 2016.

A primeira medida ridícula de nosso prefeito foi pedir às pessoas que saíssem às ruas com as cores do Brasil e fossem aos locais por onde essa comitiva vai passar (instalações como Maracanã, Engenhão, Parque Aquático Maria Lenk e outros) para demonstrar a vontade e alegria do povo em sediar as Olimpíadas. Bem, tirando aquela coisa bem política de um bando de criancinhas com faixas e bandeirinhas sendo agitadas enquanto o ônibus da comitiva passava, foi um dia como outro qualquer. Feriado de 1º de maio, a população querendo mesmo é descansar e tocar a vida. Um dia normal.

É uma ilusão alguém acreditar que os enviados do COI são idiotas, que vão acreditar em maquiagem. Eles estão fazendo visitas às sedes das cidades candidatas. É uma ilusão achar que comer do bom e do melhor, ter uma bela visão da varanda do Copacabana Palace vai convencê-los.

Que legado o Pan de 2007 deixou para nós? Já se vão quase dois anos desde que ele aconteceu. O Maria Lenk está fechado, a Arena Multiuso ganhou um HSBC no nome e as outras instalações estão abandonadas ou sucateadas ou foram entregues à iniciativa privada. Só lembrando que TUDO foi feito com dinheiro meu e seu, que lê este post. E a Vila Pan-americanca? Até hoje a obra não acabou, quem comprou uma das unidades está na justiça contra a AGENCO, que tocou o empreendimento, ou parte dele.

Sabe qual investimento será feito para a melhoria do trânsito da cidade? Novas linhas de metrô, racionalização das linhas de ônibus, duplicação das pistas da Av. das Américas? Nada disso. Férias escolares postergadas e um rodízio de carros, como o que existe hoje em São Paulo. Isso é só um exemplo. Não é difícil saber quais são as propostas. INFORME-SE. É a melhor arma para formar um cidadão consciente.

Sou BRASILEIRO e CARIOCA. Tenho a plena consciência de que esse evento não vai trazer nada de duradouro para a cidade, para seus moradores. Vai servir mesmo é para encher os bolsos de uma meia dúzia de pessoas, exatamente como aconteceu há dois anos. E isso muito me entristece. Prova apenas que o que ainda reina por aqui é a prática do "meu primeiro". Enquanto isto não mudar, estaremos caminhando pra frente arrastando uma pedra de uma tonelada.

Sou BRASILEIRO e CARIOCA.

Friday, December 26, 2008

O fim. Será?

É o fim.

Hora de catar os cacos, de juntar o que sobrou. Cada pedacinho. As lembranças, as felizes, parecem tocar na ferida cada vez que vêm à mente. As tristes, essas nem aparecem, já bastam as que nos fazem arrepiar. Tudo parece cinza. Sensação estranha. Algo no estômago parece revolver-se, uma azia interminável. Isso se junta com uma sensação de vazio, de solidão.

É o fim. Mas é recomeço também. Como um sorriso aberto de manhã ao ver o dia ensolarado e uma brisa gostosa. Novas (outras) possibilidades se mostram. Tudo antes traçado agora parece inadequado, obsoleto. É tudo novo, está aí pra ser escrito, rabiscado, apagado e reescrito.

Tuesday, December 23, 2008

Solidariedade?

Nas últimas semanas está muito evidente nos noticiários a "solidariedade" que o brasileiro possui. Todo dia a imprensa insiste em mostrar um caso mais heróico que o outro.

Será que isso é solidariedade? Será que é só isso mesmo? Ajudar as pessoas no momentos mais agudos? Minha resposta é não. Solidariedade é querer para o outro o que se quer pra si, sem pieguice. É deixar de querer ser o melhor, relegando ao outro uma posicão de inferioridade. Essa fama horrososa (e totalmente verificável) de sempre se querer levar vantagem em tudo é o que nos destrói, o que nos corrói. Não se tem, na verdade, a noção do que esse tipo de atitude acarreta.

Desviar dinheiro de um hospital é não ter solidariedade. Quantas pessoas se está matando com isso? Pensemos. E aquela obra de contenção do rio, aquele que, quando deu a chuvarada inundou tudo e desalojou centenas de pessoas? Cadê a solidariedade? São milhares de pessoas, todos os dias, em todos os cantos do país, necessitando do mínimo de estrutura simplesmente porque uma outra (na verdade um grupo, muito menor) não teve um fio de solidariedade.

O imediatismo é evidente. O "se dar bem" de hoje faz com que portas sejam fechadas no futuro. É necessária uma mudança radical de consciência. Talvez essa mudança seja muito grande para se alcançar. Por enquanto vamos tentando.

Começando

Ano Novo sempre vem coisa nova! Para bom e para ruim. Nossa, isso é muito recorrente. É tão óbvio, evidente, que parece até banal. A gente planeja, às vezes sai tudo diferente, errado ou certo. Deixa correr solto e acontece, é fantástico. O importante mesmo, pelo menos para mim, é extrair o melhor destas situações. Não é observar conformado tudo o que acontece não, longe disso. É viver, agir e depois refletir sobre as atitudes suas e das pessoas ao redor. Isso é o que mais engrandece, a pluralidade das coisas. Como algo pode ter tantas faces e ser e não ser.

Tudo junto.

Wednesday, November 26, 2008

Filhos, depositários dos nossos sonhos e anseios

Engraçado, li esssa frase aí em cima por acaso, zapeando (isso é termo que se aplica pra internet também?) num desses dias. Fiquei pensando que isso é tão natural para todos que meio que não suscita nem discussão.

Todo mundo quer que o filho seja assim ou assado, fica projetando, imaginando. É claro que é com a melhor das intenções. Mas essas coisas esbarram nos preconceitos que às vezes os pais nem se dão conta.

Pense nisso.