Monday, May 23, 2005

O petróleo é nosso, mas o petróleo de quem?

Essa semana vimos nos noticiários que o Congresso Boliviano aprovou lei reestatizando o setor de petróleo e gás e taxando em 32% o imposto que se paga na exploração e produção. A partir de agora todos os contratos fechados terão de ser em regime compartilhado. A empresa autorizada extrai o gás e o entrega à YPFB (estatal boliviana) que então negocia o produto.

A Petrobras, em parte, sai ilesa, já que a lei não retroage. Nosso contrato de fornecimento vai até 2029. Neste, o Brasil é dono do gás extraído e faz dele o que bem entender. Os investimentos que seriam feitos na terra de Carlos Mesa agora, em virtude da lei, serão revistos. Esses somariam mais de 3,5 bilhões de dólares. A lei, em suma, pode estar jogando o país em séria crise econômica.

Toda a introdução aí do caso serve para suscitar uma simples questão. O Brasil é um país de terceiro mundo, subdesenvolvido, "bonzinho e pobrinho", que luta contra as grandes injustiças e as potências capitalistas, mas está, no fundo no fundo fazendo o mesmo que elas. "Farinha pouca, meu pirão primeiro" já dizia o ditado.

Assim como fazem as empresas americanas e européias que entram e levam nossas riquezas, faz também a Petrobras na Bolívia e ainda timidamente na Argentina. Exatamente como elas. Daí surge a ambiguidade. A gente pode fazer com os mais pobres porque, afinal de contas, "pobre por pobre será menos um"? Ou eu entendi errado ou é o esquema "faça o que eu digo, não faça o que eu faço".

Isso me faz imaginar uma coisa selvagem, do tipo "engula todos que puder, fortes ou fracos, porque mais tarde o engolido poderá ser você". Aos poucos a Petrobras e o Brasil vão saindo da pobreza, mas pelos mesmos caminhos dos que hoje dominam o mundo, pisando nas economias mais fracas, escravizando-as pelo capital.

É um paradoxo que se vive. No Brasil nos mobilizamos para que a ANP não leiloe o petróleo que está em nosso território e lá fora fazemos o que não queremos que façam aqui. Estranha, sensação das mais estranhas.

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